Author: Prelúdio & Poesias
•10:51

Quando a viola gemer nas mãos de um seresteiro, na rua trepidante da cidade agitada, não tenha um minuto de indecisão. Atende ao chamado e vem; a Bahia te espera para a festa cotidiana.
Ouves? É o chamado insistente dos atabaques na noite misteriosa.
Se vieres, eles tocarão mais alto ainda, e as yawôs cantarão os cânticos de saudação, em tua chegada.
Do forte velho virá uma música antiga, valsa esquecida que só o ex-soldado recorda; e o rio Paraguaçu múrmura o teu nome e os sinos das igrejas tocarão Ave Maria apesar de que o crepúsculo lá passou com sua desesperada tristeza.
Verás igrejas, grávidas de ouro. Dizem que são trezentos e sessenta e cinco. Talvez não sejam tantas, mas o que importa?
Onde estará mesmo a verdade quando ela se refere a esta cidade da Bahia?
Sua beleza eterna solida como nenhuma outra cidade brasileira, nascendo do passado, rebentado em pitoresco cais, nas macumbas, nas feiras, nos becos, nas ladeiras, esconde um mundo de miséria e dor.
Eu te mostrarei o pitoresco, mas te mostrarei também a dor.
Vem serei teu cicerone. Juntos comeremos no Mercado sobre o mar o vatapá apimentado e a doce cocada de rapadura.
Esse é bem um estranho guia, com ele não verás apenas os lugares e bairros ricos; Veras igualmente os cortiços infames.
Quando a viola gemer nas mãos do seresteiro, nascido na Bahia e cheio de poesia, não reflita sequer. A Bahia te espera, e eu serei teu guia pelas ruas e pelos seus mistérios...
Se amas a humanidade e desejas ver a Bahia com os olhos do amor e compreensão, então serei teu guia.
Vem à Bahia te espera!

Jorge Amado


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